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A córnea é um tecido fino e translúcido, localizada na parte anterior do globo ocular na frente da íris e possui um dos tecidos mais sensíveis do corpo.

Além disso, possui estrutura anesférica com superfície lisa e translúcida, é avascular e contém fibras nervosas amielínicas.

Mais precisamente a córnea possui 5 camadas com funções e características morfológicas próprias que conferem a estrutura e proteção do olho.

As camadas observadas são: Epitélio, Membrana de Bowman, Estroma, Membrana de Descemet e Endotélio.

Efeitos Biomecânicos da córnea

A camada estroma é conhecida também como substância própria da córnea, é o tecido responsável por sustentar as células e compreende 90% da espessura desta estrutura. É formado por cerca de 300 lamelas de colágeno de tamanhos que variam entre 0,5 a 250µm, e espessura entre 0,2 a 2,5µm.

Cada lamela é composta por fibrilas de colágeno, e cada fibrilas é composta por macromoléculas de polipeptídios separados em cadeias, ou seja, o colágeno representa cerca de 70% do peso da córnea.

    O que é colágeno?

    O colágeno é a proteína mais abundante do corpo, principal elemento na matriz extracelular humana e sua principal função é dar sustentação, firmeza e elasticidade, também estão envolvidos em processos de renovação e cicatrização e é formado por polipeptídios em cadeias.

      Ceratocone

      As córneas com ceratocone possuem irregularidades estruturais, na disposição das lamelas de colágeno do estroma anterior, caracterizada pelo afinamento central da córnea, ou seja, ela perde o seu formato arredondado, adquirindo o formato de cone.

      Essa alteração no formato da córnea provoca distorção nas imagens (perto e/ ou longe), perda gradual da visão, coceira nos olhos, dor de cabeça, visão dupla, sensibilidade a luz

      O ceratocone, caso não seja diagnosticado a tempo ou não seja devidamente tratado, pode levar ao transplante de córnea.

      Segundo a CBO – Conselho Brasileiro de Oftalmologia, trata-se de condição rara, encontrada em todas as raças, nas diferentes partes do mundo, com prevalência que varia de 4 a 600 casos por 100.000 indivíduos.

      Crosslinking

      O crosslinking é um método de formação de ligações covalentes dos colágenos que compõem o estroma corneano, os primeiros estudos do Crosslinking (CXL) em olhos humanos iniciaram-se em 1998 na Universidade de Dresden na Alemanha por Wollensak, Spoerl e Seiler, que sugeriram o uso de luz ultravioleta associada a riboflavina (vitamina B2) que é um agente fotossensibilizante para indução da reticulação do colágeno corneano.

      O protocolo inclui a remoção do epitélio, com diâmetro de 9mm, associado a aplicação de riboflavina (vitamina B2) 0,1%, e irradiação com UV-A (3 mW/cm2).

      Após a aplicação do crosslinking, estudos experimentais afirmam que as córneas ficam mais resistentes e comprovaram a eficácia em estabilizar o ceratocone e as ectasias pós refrativa.

      Protocolo Crosslinking Corneano

      Crosslinking (CXL) da córnea é uma técnica que possui a combinação de um fotocondutor, luz ultravioleta (UV) e uma reação fotoquímica que leva a indução de radicais livres, que conduz a uma ligação química entre as fibras de colágeno.

      Fotocondutor

      A riboflavina (vitamina B2) é uma vitamina hidrossolúvel que apresenta a coloração amarela fluorescente.

      Além de ser um fotossensibilizador biológico, desempenha um importante papel biológico como sensibilizador fotoquímico e faz parte de alguns dos componentes das lentes de contato do olho humano.

      No método crosslinking a riboflavina funciona como um fotocondutor muito eficaz e protege os demais tecidos da irradiação UVA.

      Luz Ultravioleta (UVA)

      A radiação ultravioleta representa um importante fator prejudicial à córnea e outras estruturas oculares.

      Os malefícios causados pelos raios UVA dependem do comprimento de onda da radiação e do tempo de exposição.

      Porém, no método crosslinking, é utilizado somente o UVA (370 nm) que incluem comprimento de onda, fluência e tempo de irradiação que são específicos e bem sucedidos nos tratamentos.

      Como é feita a Cirurgia Crosslinking?

      É utilizada uma técnica pouco invasiva, com duração aproximadamente de 1 hora, o paciente é liberado logo após o procedimento, sem necessidade de internação.

      A indicação é para pacientes em casos iniciais do ceratocone, quando a doença está em progressão ou que já foram submetidos a cirurgia refrativa, porém, os estudos vêm comprovando a eficácia em estágios avançados do ceratocone ou associados a outros tratamentos.

      O procedimento Crosslinking é realizado em sala cirúrgica

      É aplicado colírio anestésico denominado de proximetacaína tópica, entre 2 a 5 minutos antes da cirurgia.

      O epitélio corneano é removido por raspagem mecânica sobre a córnea central 9,0mm através de uma espátula.

      Após a remoção do epitélio da córnea, é aplicado a solução de 0,1% riboflavina a cada 5 minutos por um período de 30 minutos para penetração adequada.

      Usando-se a lâmpada de fenda em luz azul de cobalto, verifica se a riboflavina (vitamina B2) foi fixada no tecido corneano.

      Após este procedimento, a córnea entra em contato com a irradiação ultravioleta, através de um aparelho onde é exposta por cerca de 30 minutos, onde a solução de riboflavina é aplicada a cada 5 minutos.

      Durante o tratamento o paciente é orientado a manter o olhar em direção a sonda de emissão de luz.

      No término da cirurgia é colocada uma lente de contato terapêutica que é retirada de 5 a 7 dias, ou seja, é mantida até a completa cicatrização do tecido corneano.

      Também serão prescritos colírios anti-inflamatórios, analgésicos, anestésicos, antibióticos, além de lubrificantes.

      O acompanhamento médico ocorre no dia seguinte ao procedimento, depois o retorno é com 7 dias e, após este período, passa a ser observado em um tempo de 30 dias, 3 meses e 6 meses.

      Após o tratamento, a transparência da córnea e do cristalino bem como a densidade das células endoteliais não sofrem alterações, há um aumento significativo da rigidez biomecânica nas córneas, em alguns casos ocorrem um aplanamento discreto do cone e a regeneração e re-inervação do epitélio corneano.

      Vale ressaltar que apesar de serem mínimos os ricos do crosslinking, as complicações podem ocorrer, como por exemplo, infecções e a opacidade da córnea, que podem ser evitadas através dos colírios no pós-operatório.

      Após o crosslinking, o paciente pode ter a necessidade do uso de óculos e lentes de contato, pois não se trata de uma cirurgia refrativa e sim um procedimento para evitar a evolução do ceratocone, além de diminuir a probabilidade do transplante de córnea.

      O crosslinking é um procedimento inovador e promissor, além de ter grande vantagem de ser uma cirurgia ambulatorial.

      Quer saber mais sobre Crosslinking? Deixe o seu comentário e acompanhe os próximos temas do nosso blog

      Grande abraço,

      Dr. David Ribeiro de Mendonça Filho
      CRM/SP 98339
      Especialidade: Cirurgias Refrativas, Catarata, Ceratocone e Retina Clínica